terça-feira, 13 de julho de 2010

Sobre Saramago

Terminei de ler dois polêmicos livros do meu mais recente herói morto José Saramago, os famigerados O Evangelho Segundo Jesus Cristo e o derradeiro Caim. Ambos recontam, sob a visão do português, os mais populares livros da bíblia os evangelhos e o Genesis, este último que recentemente foi ilustrado por Robert Crumb, mais isso fica pra outro post.

Usemos a ordem cronológica que é sempre mais fácil de ser acompanhada. Sobre o Evangelho, acho que todo mundo crucificou-o por pouca coisa, peço perdão pelo trocadilho, mas quem se escandalizou com ele nem chegou a abri-lo para espiar o que lá havia apenas se ateve ao título. Concordo que algumas coisas que ali estão, chocam: tudo bem a Maria não concebeu virgem, está bem Jesus amasiou com a Maria de Magdala, mas nada disso abala a essência da mensagem que está no novo testamento, pois ainda mostra o cristo que é amor, redenção, fé e luta, porém mais humano.

Por ironia posta por ele ou pelo destino, agora que ele se foi jamais saberemos, o seu livro mais famoso é o mais fraco, possui trechos memoráveis como: a reflexão sobre tempo/memória, a não ressurreição de Lázaro e a conversa entre Deus, o Diabo e Jesus. Porém pareceu-me que após os quarenta dias de reclusão de Jesus no mar, não no deserto, o texto perdeu fôlego e foi meio corrido e sôfrego até o fim.

Em Caim, ainda vemos o mesmo Deus insatisfeito como em O Evangelho, entretanto um Deus mais saramagueano, mal e pérfido. Nesse texto vemos nosso herói fratricida vagar pelos mais significativos acontecimentos do livro de Genesis, excetuando-se o Éden e a expulsão de seus pais de lá; a narrativa percorre um tempo espaço outro em que Caim está em todos os tempos, porém não pertence a nenhum, sempre acompanhado pela figura de Deus que está presente para trazer morte e destruição.

No derradeiro livro, vemos mais uma vez Saramago apedrejar Deus. Nosso velho lusitano nunca entendeu como era possível existir Deus e a dor do mundo, ele a sentia isso é nítido desde seu primeiro romance O Levantado do Chão ou ainda no mais popular Ensaio Sobre a Cegueira. Contudo incutido em seus ideais comunistas e humanitários vemos grandes lições de teologia e amor cristão, coisa que muitos cristãos nunca puderam ou um dia poderão ensinar, ou seja, quem muito julga o ateísmo de Saramago nunca parou para lê-lo e compreende-lo.

Enfim, a morte dele chateou-me muito, porque eu realmente o admirava. Ele sem sombra de dúvida está ao lado de Camões, Pessoa e Gil Vicente no panteão dos escritores lusos, mais um Dom Sebastião que Portugal perdeu.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Foto legal