segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Simplesmente Woody

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Crônicas de uma morte repetida

Hoje quando cheguei à universidade e uma amiga me disse "Você também veio de amarelo", lebrei-me que o Tusca começaria à tarde com seu tradicional corso. Senti uma certa vergonha de estar de amarelo, cor que nem mesmo costumo usar, senti vergonha por ser relacionada a festa , não por que ache baladas necessariamente envergonhantes, mas pelo que essa, em geral, se tornou.

Mais tarde ao sair, mais uma vez me esqueci do Corso, peguei o caminho que passava pela Avenida Getúlio Vargas, local do Tusca esse ano, pois devido a morte de um estudante no ano passado a festa e o corso foram transferidos para o extremo da cidade. Aborreci-me com o trânsito lento e impedido, vi muitas pessoas caminhando com suas tradicionais camisetas amarelas e vermelhas, garrafas e canecas a mão, nos bares excepcionalmente abertos, ainda era 7 e meia da noite. Estavam felizes e faziam troça aos carros que passavam.

Quando voltava algumas horas mais tarde pela mesma Getúlio Vargas, vi um rapaz correr atrás de um carro e levar um tombo sério, não ri. Senti pena. Estranhei o número de pessoas que desciam a avenida voltando da festa, ainda eram 11 da noite, andavam com tristeza, um andar constrangido quase que envergonhado, achei que era o pessoal que tinha “queimado a largada” bebido muito durante a tarde e já retornava a casa de ressaca.


Mais a frente em meu caminho de volta, senti medo, pois pensei "um desses bêbados pode encanar comigo", porém,quando cheguei à rotatória vi algo estranho, um perímetro dela estava com tapumes o mesmo que cercava a estrutura da festa (que me lembrou um curral, quando a vi no dia anterior). O ar, em campo aberto, cheirava a vomito, urina e cerveja e havia mais pessoas que andam tristonhas, não havia música, apenas um leve tumulto de pessoas procurando o caminho de casa em meio às latas de cerveja e sacolas plásticas.

Agora a pouco descobri o porquê de a festa acabar mais cedo e o porquê dos ombros arqueados e das cabeças baixas dos jovens que retornavam ao centro da cidade. Um deles havia morrido, fora atropelado pelo caminhão que transportava as bebidas da festa; todas as medidas foram aparentemente tomadas: O transito fora impedido, havia cordas de segurança em torno dos caminhões, a policia civil fazia a segurança, ambulâncias de plantão para carregar ao pronto socorro os muitos casos de coma alcoólico.

Teoricamente tudo fora pensado para que tragédias como a do ano passado e de outros anos não se repetissem, mas mais uma vez um corpo foi estendido no chão, não afogado no córrego como no ano passado ou no lago da UFSCar como alguns anos a traz. Não acredito que a culpa seja da organização, ou mesmo do rapaz que ainda não se sabe ao certo como foi parar com a cabeça embaixo das rodas do caminhão. Responsabilizo esse culto ao divertimento da minha geração.

Essa tensão que inrrompe sobre o ar da universidade na quinta-feira do Corso, esse "off" dado no cérebro depois do meio dia. Onde se desligam todos os sensos necessários a vida em sociedade: auto preservação, responsabilidade e respeito pelo próximo e por si mesmo. Como o André sempre diz “Uma vida resumida a sexta feira.”

Ao olhar todas aquelas pessoas no portão principal da USP hoje, deparei-me com uma juventude que não tem motivos para manter-se sóbria. A festa não é apenas um momento para extravasar o meio semestre árduo, é uma escapatória desesperada da realidade; de todas as formas da cerveja e sexo descuidado a maior apreensão de extasi feita na historia de São Carlos nesse mesmo período do ano passado, entre outras drogas mais pesadas.

Eu sinto muito por essas famílias que perderam seus filhos de uma forma tão trágica e pior pelos comentários a respeito serem:

“Pega muito mal morrer com a camiseta do chapolin colorado”

“Morreu porque estava na farra, se estivesse em casa tava vivo”

“É bom mesmo que morra um pra esse povo acabar com essa palhaçada”

São pessoas que morreram! São vidas que se perderam prematuramente! E há outras que nem ficamos sabendo de overdose de álcool e outras drogas dentro das repúblicas espalhadas pela cidade, do abuso sexual contra jovens embriagadas que além de sofrerem violência sofrem discriminação no atendimento médico e policial:

“Se não estivesse bêbada e andando de shortinho não tinha acontecido nada.”

“Fica biscateando por ai, se arrepende e vem falar que foi abusada.”

A lição que tiro de tudo isso é ambígua, pois existe a intolerrância de quem está "do lado de fora" do tusca, que acham que tinha de acabar com tudo e pronto. E desses esses jovens tem o desejo de romper com certas regras sociais, porém metem os pés pelas mãos por não saberem como usar a liberdade que lhes é dada em “três dias de folia programada.” Mas quem lhes outorga essa liberdade, a bebida, a festa, o centro acadêmico?

Não sei, apenas sinto que enquanto os padrões de diversão não mudarem, as pessoas não olharem com humanidade e amor as vítimas da sociedade da diversão a qualquer custo, muitas vidas serão perdidas e algumas no sentido literal da palavra.




segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Abolição do Homem

"O dever do educador moderno não é o derrubar florestas, mas de irrigar desertos. A defesa adequada contra os sentimentos falsos é incultar os sentimentos corretos. Ao sufocar a sensibilidade dos nossos alunos, apenas conseguiremos transformá-los em presas mais fáceis para o ataque do propagandista. Pois a natureza agredida há de se vingar, e um coração duro não é uma proteção infálivel contra um miolo mole."

Lewis, C. S. 2005. pag 12