segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ás seis da tarde

A memória é algo muito estranho. Há algum tempo lembrei-me desse texto, é óbvio que não o sabia de cor, mas lembrei-me da temática que era pertinente a conversa e comentei com o André que se interessou pela poesia. Porém, não me lembrava onde tinha lido e nem quem era o autor. Estudando, encontrei o famigerado texto que estava numa prova que eu havia feito há alguns anos (Fuvest 05).


Às seis da tarde

Às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução.

Marina Colasanti – Gargantas abertas


É interessante como uma coisa pode permanecer na memória por tanto tempo, mesmo que não tenha sido algo extraordinário. Uma cena, uma música, uma idéia(?) tudo isso pode ficar eternamente no subconsciente. Logo, tomem cuidado com as coisas que leêm(?) por aí, elas podem ficar morando na sua cabeça.

Um comentário:

André Rocha disse...

Nosss! Eu acho que tivemos essa conversa em fevereiro de 2008!rs...Foi quando vimos o "Casa de Alice", não foi?!...eu acho bacana o momento epifânico: "Lembrei!"rs...beijos!