sábado, 1 de novembro de 2008

A cegueira que faz enxergar...


Há cerca de dois anos li o romance “Ensaio sobre a cegueira” do português José Saramago, fiquei pensativa por semanas, pensei em como a civilização que conhecemos é frágil e em como o homem é extremamente mesquinho. Tive pesadelos com isso e fiquei muito ansiosa para ver como tudo aquilo seria transportado para o cinema.


Pensei em como seria se realmente a humanidade fosse acometida por uma epidemia de cegueira branca, e o que imaginei não é muito diferente do que vi ontem no cinema ao assistir o filme homônimo do diretor Fernando Meirelles. Embora nem todas as personagens e situações que estão no livro estejam no filme (teríamos um série se isso fosse feito), ele é sintético e expressivo pois consegue fazer com que vejamos o que o ser humano tem o de pior do instinto e da civilização.


É aterrorizante nos vermos nos cegos, pensarmos que se estivéssemos na mesma situação tomaríamos as mesmas atitudes. Como por exemplo o momento em que a protagonista rechaça um grupo tão desamparado quanto o seu, ou quando vemos as mulheres sendo estupradas/prostituídas em troca de comida. É terrível pensar que isso acontece todos os dias em algum canto do mundo, e que fechamos os olhos porque não ver é mais confortável.


O filme nos insere nesse mundo por mostrar como seria o homem sem apenas um dos cinco sentidos (e o mais valorizado na pós-modernidade). A iluminação que deixa o expectador com a sensação de que ele pode a qualquer momento ser acometido pelo mal da cegueira, uma trilha sonora minimalista com faixas instrumentais e uma bela fotografia. O longa é tão perturbador quanto o livro, pois nos mostra o tamanho de nossa cegueira


ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA (BLINDNESS)
Brasil/Japão/Canadá, 2008 - 118 min
Direção: Fernando Meireles
Roteiro: Don Mckellar, baseado no livro de José Saramago
Fotografia: César Charlone, ABC
Montagem: Daniel Rezende
Música: Marco Antonio Guimarães / UAKTI
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Yusuke Iseya, Yoshini Kimura, Don Mc
kellar, Danny Glover, Gael García Bernal


Um comentário:

André Rocha disse...

"É aterrorizante nos vermos nos cegos, pensarmos que se estivéssemos na mesma situação tomaríamos as mesmas atitudes."...eu penso que já estamos cegos e que todos os dias tomamos essas atitudes...perturbador...beijo!